Yoga nos Hospitais
O yoga já é reconhecido na medicina integrativa e utilizado dentro do sistema de saúde ao redor do mundo, crescendo em sua aplicação em diversos tratamentos e beneficiando pacientes, acompanhantes, médicos e enfermeiros, contribuindo significativamente para a longevidade da nossa espécie.
Muito mais do que uma atividade física, segundo Patanjali, yoga é o cessar do turbilhão de pensamentos, em sânscrito: "Yoga chitta vritti nirodha". Apesar de a parte física com as posturas ("asanas") ser a técnica mais difundida no ocidente, esta filosofia milenar reúne um conjunto de métodos para atingir esse cessar dos pensamentos, dentre eles: meditação ("dhyana"), exercícios respiratórios ("pranayamas"), gestos ("mudras"), cantos ("mantras") e relaxamento ("savasana").
Quando falamos em yoga como terapia para pacientes, é fundamental adequarmos a técnica para torná-la acessível aos seus praticantes, considerando sua fragilidade física e emocional inerente ao seu estado de saúde e tratamento. Mais do que uma intervenção física, trata-se de uma intervenção para respiração, emocional, psicológica e gerenciamento do stress. E é nesse ponto que o yoga faz tanto sentido para médicos e enfermeiros na linha de frente no combate às enfermidades.
Para que o yoga traga resultados, é necessário alinhar a técnica entre o facilitador, médicos, fisioterapeutas e enfermeiros, entendendo as limitações do paciente e os benefícios que devem ser buscados com a prática. Além disso, o feedback do praticante é fundamental para o andamento de sua aplicação.
Desde 2017, venho trabalhando na área oncológica com yogaterapia em pacientes com câncer submetidos a quimioterapia, sendo este o tema do trabalho de conclusão de curso da minha primeira formação como instrutor de yoga. Na época, atuei com meu grupo no Centro Paulista de Oncologia (CPO) com pacientes de terceira idade em quimioterapia, e o objetivo da prática foi ajudar no sono, reduzir náuseas, aumentar o apetite e diminuir o stress dos pacientes. Com base nesta demanda, criamos uma sequência acessível aos pacientes utilizando como ferramentas os pranayamas, asanas, meditação guiada, mantras e relaxamento.
Atualmente, trabalho no Hospital do Coração (HCor) no centro de infusão, atendendo os pacientes durante a quimioterapia, oferecendo exercícios respiratórios e meditação guiada, com o objetivo de acalmar a mente num momento tão delicado como este. Além destas técnicas, trabalhamos movimentos nas articulações, técnica conhecida no yoga como "Pavana Muktasana", um grupo de ásanas que remove bloqueios que impedem o livre fluxo de energia no corpo e na mente.
Durante minha trajetória, além de oferecer yoga aos pacientes, também convidei seus acompanhantes para as práticas. Apesar de não estarem doentes, eles passam por um grande desgaste físico e emocional ao lado de quem está sendo tratado. Por este motivo, também podem desfrutar dos benefícios do yoga, cuidando de si mesmos através do autoconhecimento.
Depois de meses na oncologia do HCor, fui convidado para a pediatria, onde pude compartilhar o yoga exclusivamente para os pais acompanhantes das crianças. Estes pais abrem mão de tudo para cuidar de seus filhos na luta pelo bem-estar. Costumam estar exaustos pela pesada rotina do hospital, além de dormir em sofás-camas e lidar com a parte burocrática e financeira da internação de seus filhos.
Em maio de 2024, participei de um evento organizado pelo Yoga Alliance chamado Yoga in Healthcare Meet-Up, que reuniu 80 profissionais de yoga ao redor do mundo para discutir os diferentes usos do yoga no sistema de saúde. Foi uma troca muito valiosa.
Por fim, acredito que estamos apenas no começo desta jornada do yoga como terapia integrativa. Quando conseguirmos oferecer yoga na maioria dos hospitais, não apenas para pacientes, mas também para acompanhantes, enfermeiros e médicos, poderemos levar um pouco mais de bem-estar através desta prática milenar para este meio tão relevante que representa a saúde.